segunda-feira, maio 27, 2013

Nunca é Tarde

Sentada, quase deitada em uma velha cadeira de balanço, com as pernas cruzadas e ligeiramente flexionadas, braços para o alto da cabeça encostados à parede pareciam brincar com a caneta  que tinham presa entre os dedos.Vez por outra apertava o êmbolo fazendo aparecer o bico,e, agenda aberta sobre os joelhos, enquanto a seu lado dormia o cãozinho de estimação.
Naquela posição letárgica olhar parado para a televisão que se mantinha desligada. Não olhava à televisão, na verdade pensava...
Ali estava ela: A solidão. Aquela condição da qual sempre fugira toda sua vida e que tanto medo lhe causava. E é assim que vamos encontrar Lídia. Seu pensamento era: será que ele, SARAIVA, já se deparara com uma situação semelhante? Ele que sempre fora, ou melhor se achara o inatingível, o infalível?
Naquela solidão ela tinha pelo menos o cachorro por companhia, e ele? Será que sentia falta do filho cachorro que nada exigia e que se contentava apenas com um afago grosseiro na cabeça?
Assim estava perdida em seus pensamentos quando teima em voltar a reflexão: É... apesar de tão temida a maldita solidão é preferível a  companhia  de Saraiva.
Dez anos se passara e ela nem se dera conta da inutilidade daquele tempo. Ele nunca fora um bom exemplo para seu filho, nunca tentara conquistar ninguém. Nem a própria Lídia que fora se deixando levar pelo medo da solidão.
Os temas das conversas de Onofre eram tediosos: cheiravam a sangue e o verbo bater era predominante, muito embora nunca se ouvira falar que batera em alguém.
Lídia aguardava um momento para romper com esta vida desgraçada, até que um dia casualmente alguém lhe fala tudo.
Onofre tinha duas amantes e Lídia era apenas a mantenedora. Humilhada vai para casa. Olha friamente para ele e pensa: nada direi hoje, o ódio que sinto pode levar-me até a morte. Passam-se dois dias e ela não resistiu jogou-lhe na cara tudo que tivera guardado dentro de si durante aqueles 10 (dez)anos. Mais dois dias se passaram e ele dormia a seu lado como uma espécie de provocação ou quem sabe esperando que ela fosse esquecer o ocorrido. Até que ela de modo bem casual lhe propôs que se fosse. Então como de outras vezes ele esperou que todos saíssem de casa e mudou-se. 
Por diversos dias Lídia temeu que ele voltasse forçando-a a aceitá-lo, mas Deus dessa vez tivera piedade de sua desventura.
Lídia naquele momento estava só, odiava solidão, mas sentia-se livre da tirania, da humilhação e a ausência dessas lhe restituíra a liberdade. Tinha que analisar prós e contras porque nesse ínterim marcar indestrutíveis tinham sido fincadas. Passaram-se anos de desdém, indiferença, covardia, desafeto, desrespeito, pancadas e infidelidade e, tudo isso tornou-se um legado bem difícil de ser esquecido.
E para Lídia que portava a bandeira de liberdade e independência!
Agora naquela posição que a encontramos  teimava em pensar: Que fizera de sua ideologia e de sua independência? Teria passado por um desvio de personalidade ou esse sentimento que chamam de amor destrói o bom senso das pessoas? Mais uma vez se pergunta: Como pudera suportar tudo aquilo? Todavia, percebe de volta seu sentimento resiliente e diz: Foi uma prova longa, mas passou. E ali contentava-se por perceber que tinha vencido duplamente: o medo da solidão e a volta da liberdade.