sábado, março 05, 2011

No Meio

NO MEIO da terra afastarei
As esmeraldas para divisar-te
E tu estarás copiando as espigas
Com tua pluma de água mensageira.

Que mundo! Que profundo perrexil!
Que nave navegando na doçura!
E tu talvez e eu talvez topázio!
Já divisão não haverá nos sinos

Já não haverá senão todo o ar liberto,
As maçãs transportadas pelo vento,
O suculento livro nas ramagens,

E ali onde respiram os cravos
Fundaremos um traje que resista
De um beijo vitorioso a eternidade.
        
  Pablo Neruda 

Áspero Amor

ÁSPERO AMOR, violeta coroada de espinhos,
Cipoal entre tantas paixões eriçado,
lança das dores, corola da cólera,
Por que caminho e  como te dirigiste a minha alma?

Por que precipitaste teu fogo doloroso,
de repente, entre as folhas frias de meu caminho?
Quem te  ensinou  os passos que até mim te levaram?
Que flor, que pedra, que fumaça, mostraram minha morada?

O certo é que tremeu a noite pavorosa,
A aurora encheu todas as taças com seu vinho
E o sol estabeleceu sua presença celeste,

Enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,
Até que lacerando-me com espadas e espinhos
Abriu no coração um caminho queimante.
            
Pablo Neruda