quinta-feira, outubro 27, 2011

Presidente ou Presidenta?

Há comentários que aborrecem muito; outros, que entediam.Assim, entre os que mais me entediam estão aqueles relacionados a questão GÊNERO neste país.
Para exemplificar, comecemos analisando as discordância que ainda pairam sobre a flexão de gênero relativa à palavra presidenta.  Afinal já se aproxima o aniversário de posse de Vilma Rousseff, no entanto,  ainda vez por outra alguém inicia uma discussão comigo sobre o problema: Presidente ou presidenta? O pior de tudo é que você explica até perder a paciência. Não adianta! Apresentar a lei 2.749 (do Senador Mozart Lago) que determina a forma feminina para  nomes de cargos público? Também sem  sucesso! Porque o problema não é morfológico, é ideológico.
Como é muito difícil neste país  alguém assumir uma posição sincera! Tem gente que para desculpar sua posição ideológico, fica neutra. Aí  eu me reporto a Paulo Freire quando dizia que neutralidade não existe, que quando alguém se diz neutro, encontra-se do lado do mais forte. E, nesse caso quem é e sempre foi o mais forte? O masculino, é óbvio! Ele sempre teve o poder nas mão. Também ainda falando sobre poder, lembro o relato de Gilberto Freire sobre a vida da mulher brasileira no passado, quando citava que as  residências eram rodeadas de árvores para que de longe a mulher pudesse ver sem ser vista. Se por acaso aparecesse   visita masculina para o jantar ela não apareceria na sala. Então,  não é de hoje o problema. A dominação sobre a mulher é incontestavelmente histórica. Eis, pois, o motivo para tamanho alarido.
Portanto, quando vi alguém citar a conotação que se dá à palavra presidenta através da ênfase na pronúncia, contestei. Se essa ênfase semanticamente quer dizer durona, inflexível eu pergunto: Por que mulher não pode ser durona? Por que tem de ser derretida? "Manteiga" "queijo" são ambos derivados de leite e saborosíssimos! Independentes de serem moles ou duros. Dureza não simboliza firmeza de decisões? Então? A presidenta já o foi a partir do momento que decidiu participar do pleito até então só ocupado no Brasil por homens. E, se tivéssemos milhares de mulheres com tal determinação talvez houvesse mais humanização e menos corrupção neste país. 
Diante do exposto eu gostaria de lançar uma reflexão: Por que não se debate a condição masculina em relação a aparentar decidido ou vacilante? Já a mulher sempre gera debate em todos os sentidos...Aceitar o sexo masculino em cargos ou funções jamais gerou qualquer discórdia, já em relação ao feminino até a desinência de gênero torna-se polêmica.
Queria ver mesmo se o mesmo fato se aplicasse a um homem. Primeiro jamais aconteceria...segundo, se acontecesse seria aceito imediatamente e até divulgado como pioneiro. 
Só que em toda essa polêmica o que me causa mais repulsa é o fato de que até aquelas mulheres que se dizem "mais femininas", por trás de seus discursos aparentemente neutros, existe uma mulher machista que não permite sequer que seus filhos executem tarefas domésticas,,,
Então amiguinhas, continuem primando pelos seus homens "machões"! Porque eu, vou defender tudo que há de feminino, pois já basta o achatamento a que todas fomos e somos subjugadas. Defenderei, pois, a diferença da mulher que luta, que educa para minimizar as diferenças, que se desdobra para sobreviver e que na sua exaustão, ainda sobra tempo para defender o seu espaço que já poderia ter deixado de ser limitado pelo menos na flexão de gênero.

2 comentários:

Saulo dos Anjos disse...

Querida, Martinha.

A discussão posta em sua reflexão toca o cerne da questão: flexionar ou não a palavra presidente no tocante ao gênero não gira em torno de aspectos meramente morfológicos/sintáticos e o escambal. De fato, o viés é completamente ideológico. O mesmo se dá quando a gramática "culta" impõe que as palavras sejam flexionadas sempre no masculino ainda que presentes elementos femininos. Assim dizemos Maria, Joana, Francisca e Edu são dedicadOS. Ora, por que Edu se ofenderia se a flexão ocorresse de modo a destacar o feminino, ao invés de dedicados empregassémos a forma dedicadAS? Por que as tantas Marias, Joanas e Franciscas devem subjulgar-se à forma masculina e o contrário não pode acontecer? É ideológico e decorre de nossa base cultural. Bem colocado....

Maria.Martinha disse...

Pura verdade, Saulo dos Anjos.